quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Reflexos do tempo

Querida ella
Eu sei que o peso do tempo anda a rondar o teu reflexo no espelho. Não somente o peso do tempo, mas o peso que carrega nos ombros diante da exigências que rondam a todas nós. Reflexos distorcidos, padrões pré estabelecidos. Você, como qualquer outra, já esteve antes nesse mesmo lugar. Mas peço que te lembres de todo o caminho que já percorreste até aqui. Quero que recordes que não são somente anos passando, ou o corpo mudando, a pele se transformando. Não te limites a enxergar apenas isso, não será justo com você. É uma vida recheada de histórias, de marcas, de transformações não somente do corpo, mas da alma. Uma alma e um corpo que se ajustam ao dançar dos acontecimentos, das grandes batalhas, de duas gestações, de uma maternidade plena, de uma incansável busca pelo amor que se recicla e se recria a cada nova estação. Lembre-se de cuidar-se por inteiro. A saúde do corpo deve estar em sintonia com a saúde da alma. E se algo não está a contento, faça um bem a você mesma: pare, olhe, sinta e se permita entrar no casulo, mesmo que não seja confortável ou um pouco dolorido. Está na hora da lagarta tornar-se borboleta. Novamente.

Guarda teu coração

Querida ella
Há alguns dias venho te observando, tua luta em manter-se atenta a tudo e a todos, em dar conta de todos os papéis que precisa desempenhar e que tanto te completam, e te esgotam e te deixam plena, um emaranhado de paradoxos, sentimentos e atividades sem fim. Sei que tem dias em que somente o que busca ou o que deseja é um pouco de silêncio, uma hora mais de sono, uma ausência não percebida. 
Os dois coraçõezinhos que batem fora do teu corpo tem o imenso poder de te centrar e ao mesmo tempo te tirar do teu eixo. Sei que quando estavam abrigados aí dentro as expectativas eram muitas, ideais, às vezes tão fáceis. E mesmo na segunda vez, em que já parecia gata escaldada e te achavas preparada, as surpresas não param de chegar. Afinal, cada um é único e você também. Por isso, hoje aqui estou para te lembrar de que ainda que te sintas cansada, esgotada e até desanimada, te agarra nos sorrisos, nos risos e na leveza dos teus filhos, esses ainda tão pequenos em tamanho mas tão grandes em afeto. Preserva o coração para aqueles que tu ama.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Sobre o silêncio

Querida ella
Hoje escrevo pra te dizer o quanto fico feliz em perceber que com o passar do tempo você aprendeu, a duras penas, que em alguns momentos o silêncio é um bálsamo.
Sei o quanto você já se arrependeu por palavras do tipo flechas: prontas para serem lançadas com a finalidade única de ferir. Me orgulho em perceber que você tem consciência que muitas vezes essas palavras são na verdade bumerangues: vão e voltam com força redobrada, tal qual feitiço que se volta contra o feiticeiro.
Mas olha, apesar de ver-te assim mais serena e mais segura, talvez, porque não, mais madura (?), preciso te alertar que esse silêncio calculado, uma hora ou outra precisa e deve ser falado. Sim, porque bem sabe que os teus silêncios por vezes se transformam em gritos mudos, afogados em mágoas, tornando isso pior que qualquer flecha, qualquer bumerangue.
Não permita que tua voz seja calada, ainda que pareça mais fácil ou mais leve, o peso de um silêncio comedido pode se tornar um fardo quando acumulado com outros pesos que traz em teu peito.
Seja lúcida, seja firme, tenha fé. E quando a voz não puder ou não quiser gritar, saiba que na escrita sempre encontrará o teu lugar.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

O início de tudo

Querida ella
Há algum tempo penso em te escrever. Faz muito tempo que te observo, às vezes de longe, por vezes mais de perto. Mas independente da distância ou do momento em que senti o ímpeto de te dizer algumas palavras, sempre foi com grande carinho e sinceridade.
Quando estamos assim, atribuladas e cheias de compromissos e horários a cumprir, por vezes nos esquecemos de nós mesmas.
E é por isso que finalmente hoje decido te escrever. Para te lembrar daquilo que por vezes te esqueces. E desde já te peço desculpas se por ventura não seguir à risca regras formais de gramática. Acredito que o formalismo nos afasta daquilo que realmente queremos expressar nas palavras.
Afinal o coração por vezes não se acerta bem com formalidades, nem com horários e regras sociais. Um rebelde por natureza, creio eu e por necessidade, se pensarmos bem.
Mas então hoje, te vendo um pouco mais de perto de onde sempre te vejo passar, senti que estás com uma angústia nova, um não sei que de sentir-se só em meio a tantos, em sentir-se vazia dentro de si mesma, em ver-se acelerada apesar do tempo que não passa.
O que posso te dizer quando assim te sinto é que tudo passa. Sim, isso você sabe, eu bem sei também, todas nós sabemos na verdade. Mas veja bem, como te disse a pouco, estou aqui para te lembrar daquilo que ousa esquecer: és única, imprescindível para aqueles que a amam e também para muitos que ainda virão a te amar. Por isso quando assim se sentires, sozinha, afastada daquilo que consideras o combustível de tua existência, lembra das palavras que hoje trago pra você: seja forte, seja você. Permita-se viver sua solidão sem culpas e sem julgamentos. Permita-se perdoar-se, ainda que os erros sejam somente contra você mesma. Aceite os dias, um de cada vez. Respeite aquilo que estás sentindo e procure entender os porquês. Se pensar bem, não é a primeira e nem será a última vez que te sentirás assim. Aceite aquilo que não pode ser mudado, mas por favor, lute por aquilo que merece uma mudança. Acredite, tenha fé e acima de tudo, ame. Inclusive você mesma.